Crônica por Rosi Machado
Quando eu
era criança, vivia num bairro pobre próximo ao porto, com mais três irmãos
dividíamos nossa felicidade. Tudo era motivo de riso ainda que as vezes
brigássemos por coisa boda.
Lembro
pela manhã minha mãe fazendo bolinho da graxa e passando café no coador de pano
e o cheirinho chegava até o quarto aonde eu dormia abraçada na minha irmã que
na época era a caçula. Eu nunca mais senti o mesmo cheirinho me acordando
pela manhã, nenhum cheiro de café é igual aquele.
A vida da
minha mãe não era fácil, mas eu não fazia ideia, ela sempre dizia que não
estava com fome quando havia pouca coisa para almoçarmos, eu acreditava. O mais
engraçado é que eu e meus irmãos adorávamos quando ela fazia água de açúcar
quente para substituir o café, e dava para cada um de nós uma metade de pão d
água. São essas lembranças que me faz admirá-la ainda mais hoje e sempre as
dificuldades eram maquiadas de forma que não sentíamos.
Apesar de
tudo éramos muito felizes. Eu era meus irmãos eram, acreditávamos que nossa mãe
era pelo menos nunca a vimos reclamar.
Tenho
saudades das medidas que vinha na lata de leite em pó, eram minhas frigideiras,
as latas de tomate pequenas panelas, eram brinquedos sem nenhum preço, mas para
mim tinha um valor inestimável.
Ainda
posso ouvir na minha memória como se fosse hoje o apito dos navios exatamente a
meia noite quando começava um novo ano.
Quase
sempre havia um belo jantar no natal, mas lembro de um em especial que não
teve. Ficamos no quarto com minha mãe, ela estava muito triste e eu fiquei também,
mas por ver aquele rosto que para mim era tão lindo molhado pelas lagrimas que
corriam dos seus olhos. Foi a primeira vez que a vimos chorar.
São
muitas lembranças, inumeráveis acontecimentos que só agora entendo, eu era
feliz só porque era criança.
Criança
não vê as coisas como realmente são tudo é bonito, tudo é gostoso e qualquer
coisa é brinquedo... Simplesmente porque a mãe está ali ao nosso lado, nos
fazendo sentir importante em meio a tantos problemas que ela resolve sozinha.
Hoje sou
eu quem resolve os meus problemas, e sou eu quem disfarça os sentimentos para
quem eu amo não saber quando sofro. Minha mãe sofreria por mim.
Naquela
época éramos quatro hoje somos seis, a história mudou o rumo. E quer saber? A
felicidade são os momentos que estamos ao lado das pessoas que amamos. Não
precisamos de muito quando há amor no lar.
Autora Rosi Machado