Tudo o que o motorista particular Jorge Menezes precisava era de uma vaga por cinco minutinhos. “Deixar só um envelope, 5 minutos no banco”.
Só um lugarzinho para encostar e o problema estava resolvido. “Não consegue achar vaga de jeito nenhum”.
Nos últimos 10 anos a quantidade de carros quase dobrou no Brasil. Eram 21 milhões em 2001 e agora são quase 39 milhões. O que não aumentou na mesma proporção foi o número de vagas. Olha o exemplo de uma cidade como o Rio: ao todo são 45 mil vagas legais nas ruas. Se os donos de 1,8 milhão de carros, que é a frota da cidade, resolvessem sair de casa no mesmo dia, ia dar problema. A procura muito maior que a oferta aqueceu esse "mercado".
“Preço único. R$10 a gente trabalha geral”, afirma um guardador de carros.
A equipe de reportagem do Fantástico encontrou todo tipo de oferta Brasil afora. Em Brasília, cobram mensalidade para deixar o carro na rua. “É R$15 por semana. Dá R$60 no mês”. Sem nenhuma garantia. “Com a chave é mais caro porque o risco é maior, se eu arranhar seu carro, bater eu tenho que me virar”, alerta outro guardador.
No Rio de Janeiro, o preço de uma vaga na rua dobra. “Por mês é 150. Você vem, eu tiro um carro todo dia e boto o seu, até você pegar confiança e deixar a chave a conhecer o movimento. Se bater a polícia tem que ter a nossa conversa de rua. A gente dá nosso cafezinho para eles e tudo fica bem. Com certeza”, revela um flanelinha.
Quando a noite cai em São Paulo, tem que pagar uma espécie de ‘adicional noturno’.
Fantástico: Tem vaga? Quanto que é?
Flanelinha: Para você?
Fantástico: Quero ver.
Flanelinha: Olha pela minha “filosomia” (fisionomia), quanto você daria pra mim?
Fantástico: R$2.
Flanelinha: R$50.
Fantástico: R$50?!
No dia do show do Justin Bieber, na semana passada, para parar perto do Morumbi tinha que botar a mão no bolso.
Fantástico: Quanto que é o estacionamento?
Flanelinha: Eu tenho uma vaga que está R$150.
Fantástico: Quanto?
Flanelinha: R$150.
O dono de um carro resolveu não pagar. "Ele queria R$150, eu dei R$30 e falei que daria o restante, R$70, algo assim, a hora que voltasse para o carro depois do show. A hora que eu cheguei, claro, eles já não estavam mais e o vidro estava quebrado".
Pior: a vaga que o flanelinha indicou era em local proibido. “Além de ter sido extorquido e roubado, ele recebe uma multa depois de um mês”, comentou o produtor do Fantástico.
“Para você achar uma vaga na rua é difícil, é uma loteria, acho que é pior que você ganhar na Mega Sena, porque, quando acha, tem Zona Azul ou flanelinha esperando para roubar seu dinheiro. Então, eu paro, normalmente, em estacionamento, o único lugar que eu acho seguro e acabo ficando”, lamenta o publicitário Luciano Varella.
Quanto vale ficar despreocupado? “Eu gasto em média parando em estacionamento para trabalho uma média de R$900, R$1000 por mês. Gastar tanto dinheiro com estacionamento é uma dor no coração, no bolso, porque é um dinheiro que você praticamente rasga”, completou o publicitário.
Foi por isso que o consultor de marketing João Henrique Areias resolveu acabar com essa história. “Eu abandonei a ideia de automóvel. Fiz uma opção. Muito mais pela qualidade de vida e segundo porque economicamente justifica”.
Ele botou tudo na ponta do lápis. “Eu fiz uma conta simples. peguei o valor de um carro médio, R$40 mil. Primeiro item, que às vezes as pessoas não se dão conta, é a depreciação. um carro desvaloriza em média 20%, quando sai da loja. Eu coloquei uma desvalorização de 10% ao ano, aí já vão R$4 mil”.
Ele ainda botou na conta o seguro, R$100 de gasolina por semana, manutenção, IPVA e outras taxas. E mais o valor que aquele dinheiro, os R$40 mil, renderiam se estivessem na poupança.
“Com valores bem conservadores, eu não coloquei estacionamento, não coloquei nada fora, um acidente, alguma coisa, que tem a franquia, que você tem que pagar. Você chega a R$16 mil, quase a metade do valor de um carro, em um ano”.
Hoje ele só anda de táxi e de ônibus. E, principalmente, não precisa procurar vaga na rua. Problema para estacionar não é exclusividade das grandes cidades. Olha só em Itatiba, interior paulista:
“É mais difícil do que São Paulo. Eu preciso um minutinho ir ali tirar um extrato no banco e não consigo”, conta um motorista
O motorista Jorge, lá do começo da reportagem, continua procurando vaga. “Quase duas horas rodando não consegui vaga”. Ele foi embora, sem resolver o que precisava. E eram só cinco minutinhos.
Fonte: Fantástico
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