Pareço estar imerso em uma crise existencial, como as várias faces das pessoas que penso conhecer, meus cabelos começam a cair. Cheguei atrasado, me disseram que era uma comédia, mas não senti vontade de sorrir, talvez o próximo ato seja mais cômico. A cortina foi reaberta, os atores entraram em cena, mas não tinham rosto, eram feitos só de palavras, incompreensíveis palavras lançadas ao público, como sementes nas terras de Antígona, indignas de serem enterradas. Olhei a minha volta, não encontrei o autor do texto, talvez estivesse no camarim retocando sua maquiagem.
Fui até lá e deparei com inúmeras máscaras, atônito levei as mãos a face, aliviado, constatei que só tinha uma... Pedi meu dinheiro de volta, mas não quiseram devolver, contrariado voltei para o meu lugar. A mulher que jazia a minha frente, sorriu de meu aparente embaraço, levantou e deu a descarga, pelo ralo eu vi descerem algumas de suas faces. E a que restou, correu para se esconder antes que as luzes fossem acesas, tentei contê-la, não consegui e me frustrei. Fui a até o espelho e me prostrei diante daquele que me observava... Levei o espelho ao público, mas eles o quebraram de imediato, não queriam ver as máscaras que, dominadas pela comédia da própria ignorância humana, lhes observavam do outro lado... Devolvi o que restou do espelho ao seu devido lugar, tornei a me sentar e voltei a esperar que os comediantes me fizessem sorrir...
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