A fumaça de cigarros produz dez vezes mais partículas de poluição do que o escapamento dos modelos novos --e ambientalmente mais corretos-- de motor a diesel, afirmam cientistas da Itália e da França.
"As pessoas não têm uma idéia do nível de poluição produzido pelo fumo dentro de casa", disse à Folha o italiano Giovanni Invernizzi, da Unidade de Controle do Tabaco do Instituto Nacional do Câncer em Milão. Partículas microscópicas resultantes de combustão são recobertas por moléculas que podem causar câncer. Outros produtos químicos presentes nessas partículas podem levar ao desenvolvimento de bronquite e doenças cardíacas.
Essas partículas são de tamanhos variados (de 0,1 a 10 milésimos de milímetro), mas todas elas vão parar nos pulmões depois de inaladas. As menores podem entrar na corrente sangüínea.
"Partículas menores que 0,1 micrômetro (milésimo de milímetro) podem chegar ao cérebro e a outros órgãos, causando infarto e derrames", diz Invernizzi.
Fumaça nas montanhas
Os pesquisadores mediram a quantidade de partículas emitidas durante uma hora por três cigarros dentro de um quarto, e a compararam com o número de partículas emitidas no mesmo intervalo e no mesmo ambiente por um veículo equipado com um motor a diesel moderno.
O estudo foi feito nas montanhas da Itália, na cidade de Chiavenna, onde há pouca contaminação por poluentes.
Os cigarros emitiram partículas em concentrações até dez vezes maiores que o motor. O nível total de particulados foi de 88 microgramas por metro cúbico para o carro e 830 microgramas por metro cúbico para os cigarros.
Os pesquisadores também compararam o tamanho das partículas. Descobriram que os cigarros produziram 15 vezes mais partículas grandes que o carro.
Os autores do estudo, publicado no periódico médico "Tobacco Control", se disseram surpresos com o resultado. Invernizzi avisa que quartos com janelas fechadas são um problema. "A gente deve ser cuidadoso com o fumo passivo, porque as partículas podem ficar [suspensas] no quarto por muito tempo" diz o italiano.
Motores velhos
Não há ainda estudos com motores a diesel mais antigos --como os que movimentam vários caminhões e ônibus no Brasil-- dizem os autores. Mas eles dizem que esses motores geralmente produzem cem vezes mais partículas que os modelos novos, ganhando, portanto, dos cigarros.
No entanto, os novos motores estão cada vez mais em uso, devido ao endurecimento de normas ambientais, especialmente na Europa. De acordo com os pesquisadores, isso fará com que os cigarros se tornem uma fonte mais significativa de poluição.
Segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), que mede a poluição na região metropolitana de São Paulo, a média diária de material particulado jogado no ar por veículos é de 150 microgramas por metro cúbico --menos da metade do índice obtido na experiência realizada em Chiavenna.
O pneumologista Chin An Lin, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Escola de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), lembra que, na cidade, costuma-se observar uma equivalência de 70% no índice de poluição atmosférica em ambientes externos e internos. Dentro de uma típica casa paulistana, há cerca de 105 microgramas por metro cúbico --para a Cetesb, valor inserido na faixa "regular" de qualidade do ar.
Segundo Lin, estudos anteriores mostram que os poluentes inspirados ao ar livre nas metrópoles correspondem a fumar dois ou três cigarros por dia. "Ao colocar um fumante passivo dentro de uma sala, ele vai respirar ainda mais material particulado", diz. "É risco em cima de risco."
Mesmo que o estudo provoque uma reação crítica de grupos antitabagistas, dificilmente os fabricantes conseguiriam reduzir a geração de material particulado, produzido pela queima do papel e dos compostos. "Não é como o filtro, colocado para "segurar" as outras substâncias como a nicotina", afirma o pesquisador. "Todo o material conhecido pela indústria que pudesse substituir o usado hoje vai ser queimado e, por conseqüência, vai produzir material particulado."
Basta saber se a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que examina a composição do cigarro no Brasil, exigirá padrões máximos de material particulado como já pede de nicotina, alcatrão e monóxido de carbono.
LAURA NELSON
CRISTINA AMORIM
da Folha de S.Paulo
"As pessoas não têm uma idéia do nível de poluição produzido pelo fumo dentro de casa", disse à Folha o italiano Giovanni Invernizzi, da Unidade de Controle do Tabaco do Instituto Nacional do Câncer em Milão. Partículas microscópicas resultantes de combustão são recobertas por moléculas que podem causar câncer. Outros produtos químicos presentes nessas partículas podem levar ao desenvolvimento de bronquite e doenças cardíacas.
Essas partículas são de tamanhos variados (de 0,1 a 10 milésimos de milímetro), mas todas elas vão parar nos pulmões depois de inaladas. As menores podem entrar na corrente sangüínea.
"Partículas menores que 0,1 micrômetro (milésimo de milímetro) podem chegar ao cérebro e a outros órgãos, causando infarto e derrames", diz Invernizzi.
Fumaça nas montanhas
Os pesquisadores mediram a quantidade de partículas emitidas durante uma hora por três cigarros dentro de um quarto, e a compararam com o número de partículas emitidas no mesmo intervalo e no mesmo ambiente por um veículo equipado com um motor a diesel moderno.
O estudo foi feito nas montanhas da Itália, na cidade de Chiavenna, onde há pouca contaminação por poluentes.
Os cigarros emitiram partículas em concentrações até dez vezes maiores que o motor. O nível total de particulados foi de 88 microgramas por metro cúbico para o carro e 830 microgramas por metro cúbico para os cigarros.
Os pesquisadores também compararam o tamanho das partículas. Descobriram que os cigarros produziram 15 vezes mais partículas grandes que o carro.
Os autores do estudo, publicado no periódico médico "Tobacco Control", se disseram surpresos com o resultado. Invernizzi avisa que quartos com janelas fechadas são um problema. "A gente deve ser cuidadoso com o fumo passivo, porque as partículas podem ficar [suspensas] no quarto por muito tempo" diz o italiano.
Motores velhos
Não há ainda estudos com motores a diesel mais antigos --como os que movimentam vários caminhões e ônibus no Brasil-- dizem os autores. Mas eles dizem que esses motores geralmente produzem cem vezes mais partículas que os modelos novos, ganhando, portanto, dos cigarros.
No entanto, os novos motores estão cada vez mais em uso, devido ao endurecimento de normas ambientais, especialmente na Europa. De acordo com os pesquisadores, isso fará com que os cigarros se tornem uma fonte mais significativa de poluição.
Segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), que mede a poluição na região metropolitana de São Paulo, a média diária de material particulado jogado no ar por veículos é de 150 microgramas por metro cúbico --menos da metade do índice obtido na experiência realizada em Chiavenna.
O pneumologista Chin An Lin, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Escola de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), lembra que, na cidade, costuma-se observar uma equivalência de 70% no índice de poluição atmosférica em ambientes externos e internos. Dentro de uma típica casa paulistana, há cerca de 105 microgramas por metro cúbico --para a Cetesb, valor inserido na faixa "regular" de qualidade do ar.
Segundo Lin, estudos anteriores mostram que os poluentes inspirados ao ar livre nas metrópoles correspondem a fumar dois ou três cigarros por dia. "Ao colocar um fumante passivo dentro de uma sala, ele vai respirar ainda mais material particulado", diz. "É risco em cima de risco."
Mesmo que o estudo provoque uma reação crítica de grupos antitabagistas, dificilmente os fabricantes conseguiriam reduzir a geração de material particulado, produzido pela queima do papel e dos compostos. "Não é como o filtro, colocado para "segurar" as outras substâncias como a nicotina", afirma o pesquisador. "Todo o material conhecido pela indústria que pudesse substituir o usado hoje vai ser queimado e, por conseqüência, vai produzir material particulado."
Basta saber se a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que examina a composição do cigarro no Brasil, exigirá padrões máximos de material particulado como já pede de nicotina, alcatrão e monóxido de carbono.
LAURA NELSON
CRISTINA AMORIM
da Folha de S.Paulo
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