Grupo de nove imigrantes relata que não sabia que estava vindo para o Brasil. Dois deles alegam sofrer perseguição religiosa
Representantes de entidades ligadas à defesa dos direitos humanos, grupos de educação e Organizações Não Governamentais (ONGs) em defesa de africanos e afro-brasileiros estiveram na tarde desta quarta-feira (28) no navio em que um grupo de nigerianos está retido, na entrada da Baia de Paranaguá. O grupo conversou com os imigrantes e vai discutir o caso nesta quinta-feira (29) com representantes da Secretaria de Justiça do Paraná.
Os membros das entidades e da comissão de direitos humanos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) receberam a autorização da Polícia Federal e da Receita Federal para conversar com os nigerianos e esperavam a autorização do comandante do navio de bandeira turca para entrar na embarcação e chegar até os imigrantes. O grupo está no navio desde o dia 19 de setembro. Eles foram barrados pela Polícia Federal ao tentarem entrar clandestinamente no Brasil pelo Porto de Paranaguá.
O presidente do Conselho Estadual de Educação, Romeu Gomes de Miranda, que conversou com os nigerianos, comenta que os imigrantes são todos jovens, com idade próxima de 20 anos. "Eles disseram que buscam emprego e melhores condições de vida. Dois deles alegam sofrer perseguição religiosa".
Viagem
Os imigrantes relataram que vieram da cidade de Lagos, a maior da Nigéria, e relataram que ficaram durante dez dias sem comida, nem água. O grupo embarcou no dia 5 de setembro. Eles disseram que ficaram escondidos em um compartimento próximo à âncora da embarcação. Um deles é jogador de futebol profissional no país africano. Eles disseram ainda que não sabiam que estavam indo para o Brasil e pensaram que o navio seguiria para a Europa.
O grupo era, originalmente, formado por 10 nigerianos. Um deles, após sete dias de viagem, teria entrado em desespero por causa da falta de alimentos e água. Ao tentar sair do local, o nigeriano acabou caindo no mar e morreu, segundo relado dos demais sobreviventes.
Babatunde Fadipe, 24 anos, é um dos nigerianos, que reclamou das condições precárias em que ele e os demais imigrantes estão abrigados. "Não tem banheiro onde eu estou. Peço ao povo brasileiro que me ajude. Eu só quero viver. Só isso" disse.
Condições
Os representantes das entidades de direitos humanos disseram que os nigerianos estão em condições subumanas no navio. De acordo com o presidente do Conselho Estadual de Educação, o grupo está em um containers que não oferece higiene adequada. “Eles estão bastante debilitados”.
Os membros dos direitos humanos, da educação e das ONGs apelam para que a justiça conceda um visto temporário para permanência dos nigerianos no Brasil. O objetivo do grupo é que os imigrantes possam ter melhor atendimento e que se recuperem. "Durante anos o Brasil recebeu imigrantes de outros países que ajudaram a construir o País. Não podemos agora virar as costas para eles".
Segundo Miranda, na quinta-feira haverá uma reunião com José Antonio Peres Gediel, titular da Coordenadoria dos Direitos da Cidadania, da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná, para discutir o caso dos imigrantes.
Asilo político
Uma comissão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também está envolvida na tentativa de liberar a entrada dos nigerianos no país. Os membros da comissão vão intermediar o pedido de asilo político para os nigerianos com o Departamento de Estrangeiros, no Ministério da Justiça. Os membros da OAB também vão acionar o comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados.
Gazeta do Povo
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