sábado, 17 de setembro de 2011

Comer bem, um desafio diário

Poucas frutas, legumes e verduras e muito açúcar, gordura e sal são problemas alimentares a serem enfrentados pelas famílias brasileiras

O brasileiro tem se alimentado mal. O desafio de comer as porções adequadas de frutas, verduras, carne, leites e outras categorias de alimentos todos os dias não é vencido por 90% das pessoas – como mostrou a Análise de Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, feita pelo IBGE na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, divulgada em julho. Produtos industrializados como macarrões, pizzas e sanduíches, têm ganhado espaço na rotina das pessoas, que deixam os alimentos saudáveis nas gôndolas do supermercado. “Os industrializados são agradáveis ao paladar, mas contêm muita gordura, açúcar, sódio e grande quantidade de calorias em pouco volume de alimento”, cita a coordenadora nacional de Alimenta­ção e Nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jaime.

Ainda que a pesquisa mostre que a quantidade diária de calorias ingeridas por meio de carboidratos (55% a 77%), proteínas (10% a 15%) e lipídios (15% a 30%) esteja dentro dos padrões recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a qualidade da fonte desses nutrientes preocupa, pois o carboidrato, por exemplo, pode vir tanto de um prato de arroz integral quanto de um copo de refrigerante. De acordo com Patrícia, 63% dos brasileiros ultrapassam o limite de consumo calórico diário do chamado açúcar simples ou de mesa, que é de 16%, mas deveria ser de apenas 10%. Além disso, em 24 horas, o brasileiro consome gordura em excesso e exagera no sal – em média 12 gramas, quando o ideal seria o consumo máximo de apenas 5 gramas.
A facilidade em abrir a gaveta e pegar um pacote de biscoito ou salgadinho pode ser trocada pelo bom hábito de descascar uma fruta ou levá-la para o trabalho. “Comer as porções adequadas não é difícil. Mas é importante inserir o que é certo na dieta e retirar aquilo que está errado”, diz a professora do curso de Nutrição da PUCPR, Gisele Pontaroli Raymundo. Nos consultórios dos nutricionistas, a tarefa mais difícil é mudar os hábitos dos pacientes que fora dali se expõem às práticas alimentares inadequadas. “Mais pessoas querem resultados rápidos e desistem das dietas receitadas, além de sentirem dificuldades em fracionar a alimentação ao longo do dia. Vários dizem que a rotina é tão corrida que não conseguem nem consumir água”, relata a nutricionista funcional Juliana Trevelini, da Clínica Contato.

Adultos acima do peso
É no fim do dia que os erros alimentares mais acontecem. “Depois do trabalho, em casa e em frente à tevê, costuma-se comer em maior quantidade e alimentos mais calóricos. Outro erro comum é sair de casa sem tomar o café da manhã, o que chamamos de anorexia matutina, e deixar para fazer uma refeição somente no almoço”, explica a endocrinologista do Hospital de Clínicas e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndro­me Metabólica (Abeso), Rosana Radominski. Longos períodos sem a ingestão de alimentos favorecem a sensação de fome e dificultam o alcance da saciedade.
A má alimentação tem aumentado o número de adultos acima do peso. Segundo a endocrinologista, no Brasil, 50% dos adultos estão com sobrepeso e 15% a 18% tem um quadro de obesidade estabelecida.
Consultamos os especialistas e selecionamos dez dicas fundamentais para eliminar maus hábitos e adquirir bons comportamentos alimentares:
Elimine o saleiro, tempere com mais ervas
O brasileiro consome 12 gramas/dia de sal quando o ideal seria apenas 5 gramas/dia. Responsável pela hipertensão, este vilão da saúde está presente não só em saleiros e sachês, mas nos temperos de pratos triviais como arroz e feijão e em todos os alimentos industrializados, pois o sódio é utilizado para conservar e realçar o sabor. Embutidos como salsicha, linguiça e salames, e conservas de milho e azeitona contêm este nutriente e não devem ser “retemperados”. Tirar o saleiro da mesa é controlar a quantidade de sal consumida. Diminua e habitue aos poucos seu paladar. Manjericão, coentro, alecrim e tomilho intensificam o sabor dos alimentos, substituindo o sal.
Adapte seu paladar a menos açúcar
A combinação copo de leite, algumas colheres de achocolatado e de açúcar é um hábito comum e faz com que o limiar de sabor doce seja cada vez mais alto. Os vilões também são os bolos prontos, biscoitos, chocolates e refrescos açucarados, que aumentam muito o consumo diário de açúcar. O segredo é aproveitar o prazer com cautela. O consumo elevado de açúcar leva à obesidade e ao diabete. Diante de um pacote de bolacha, saiba a hora de parar.
Diminua a gordura saturada
Gordura em excesso pode causar o acúmulo de placas de colesterol nas artérias e aumentar a pressão sanguínea. A gordura saturada está presente em vários alimentos que compõem uma dieta saudável – carnes, leite e ovos – e no recheio das bolachas, na lasanha congelada e nos embutidos. Coma carnes sem gordura aparente e evite escolher aquelas mais gordas como a picanha, que pode ser trocada pelo patinho. Troque o leite integral pelo desnatado.
Fibras melhoram a digestão e o humor
A recomendação diária para o consumo de fibras, de acordo com o Ministério da Saúde, é de 25 gramas. Elas não são encontradas em alimentos de origem animal, como a carne e o leite. Dê preferência aos vegetais crus – quanto mais cozido, menos fibras. Consumir verduras nas refeições e frutas ao longo do dia ajuda o intestino a funcionar, o que influencia o humor: uma pessoa com o intestino preso vive um desconforto constante. As fibras reduzem o tempo que o alimento leva para ser digerido e eliminado. Uma maçã com casca ou laranja tem 3 gramas de fibras. Uma banana, cenoura, tomate, uma fatia de pão integral ou meia xícara de arroz integral ou de brócolis têm 2 gramas de fibras. Uma xícara de alface tem 1 grama de fibras.
Sirva-se primeiro de salada
Ir a um restaurante com muita fome é como ir ao supermercado com a barriga vazia – a despesa acaba sendo maior e se leva ou se come mais do que o necessário. Coma de três em três horas para não chegar faminto ao bufê, onde há muitas opções. Comece sempre pela salada de folhas e outros vegetais como o tomate e a beterraba, pois as fibras ajudam a alcançar a sensação de saciedade. Depois, passe para o arroz, o feijão e os outros acompanhamentos. Comer devagar é fundamental, pois quem come com pressa come mais. O sinal de saciedade demora cerca de 15 minutos para ser interpretado pelo cérebro. O prato ideal tem metade de vegetais, um quarto de carboidratos e um quarto de proteínas como carne e ovo. Para beber, opte por água ou sucos naturais – com frutas in natura.
Acostume-se ao sabor natural
Para quem não é acostumado a comer frutas in natura, a sugestão é uma mudança gradual. Se necessário, aprenda com os bebês: insira a fruta de forma líquida, com um suco ou uma vitamina. Depois, faça uma salada de frutas. Um tempo depois, comece a comer a fruta em sua forma integral. Diante das saladas de um bufê, se o paladar ainda não permite um sabor marcante como o da rúcula, do agrião ou da escarola, comece pela alface americana, que quase não tem gosto. Tempere com limão e depois passe para a alface crespa e siga até se sentir a vontade para descobrir o gosto pelas outras folhas. Cereais integrais, frutas, legumes, verduras e leguminosas devem fornecer de 55% a 75% do total da energia da alimentação.
Torne a leitura atenta dos rótulos um hábito
A quantidade de calorias não é a única informação importante na embalagem dos alimentos industrializados. Na tabela nutricional também estão descritas as substâncias que precisam ser evitadas. Tudo no rótulo é importante. Quando um produto tiver alta quantidade de sódio (mais de 480 mg por porção – consumo diário máximo é de 2.200 mg/dia), colesterol e gordura é bom não levá-lo. Não se esqueça: na quantidade de carboidratos entra a contagem de açúcar. O próximo desafio do MS é tornar clara a informação a respeito do teor de açúcar, para que a indústria reduza a quantidade usada nos alimentos. Desde 2007, a rotulagem de gordura trans é obrigatória.
Volte ao passado: refrigerante apenas no fim de semana
Refrigerante não vicia, mas as pessoas se apegam ao prazer e à facilidade de abrir uma garrafa ou uma latinha gaseificada ao invés de tomar um suco natural. O mal desta bebida são os aditivos químicos de sabor e o açúcar. O gás não é prejudicial, mas dá a sensação de estufamento e barriga inchada, pois o estômago fica dilatado.
Não há preparo saudável para o macarrão instantâneo
Muito popular entre adolescentes, que ingerem 8,4g do produto diariamente segundo a pesquisa do IBGE, o ideal é não se render à praticidade e ao preço deste produto. É preferível gastar um pouco mais, dispensar um tempo na cozinha e preparar uma massa tradicional com molho de tomate e azeite de oliva. Na sua fabricação, o macarrão instantâneo é frito, para que tenha a consistência dura e amoleça rapidamente na água. Além disso, o pó que dá sabor a ele tem muito sódio e corantes.
Não ignore a água
Criar o hábito de beber água não é difícil e seu consumo é o melhor substituto para os refrigerantes. Durante o dia, quem come frutas e toma sucos faz a sua parte na hidratação do organismo, mas ainda é preciso tomar água pura. O ideal é que uma pessoa tome dois litros de líquidos por dia. Esta soma já leva em conta o consumo de frutas e sopa. Com mais um litro de água o total pode ser alcançado. Para pessoas mais resistentes, há duas opções: fazer da água um “remédio” a ser tomado a cada duas horas ou então carregar sempre uma garrafinha ou squeeze, para facilitar o consumo.

Fonte: por Frank_William

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